29.8.09

Riflexão

“Quem ri à toa é hiena, o meu riso vem acompanhado de reflexão.”


Eu e os meus anônimos. Creio que não sou reconhecido porque não cito os grandes da literatura ou os pensadores mundiais como exemplo. Afinal, fujo desse pedantismo vazio e de qualquer coisa falsa em nossa realidade. Seria, em outras palavras, um “anti-erudito” como um contra-senso dentro dos formadores de opinião em nosso país.

O início da frase da epígrafe pertence a um amigo que não vejo há anos. Quando a ouvi, pensei em guardá-la comigo. Hoje, vejo na grande certeza da escolha. Muita gente crê de forma hipotética na minha felicidade perante os fatos do cotidiano atual. E aí respondo com o enunciado magistral daquele taxista esquecido no meio da multidão.

Aliás, é melhor me corrigir. João Carlos não era apenas um. Pai, trabalhador, amigo e indagador do sistema vigente com a sabedoria que falta a muitos de nossos intelectuais. O riso, para quem não sabe, começa a ter importância na literatura a partir do gênero dramático mais comum de nossos dias: A comédia.

Não sou tolo para esquecer de que a formação maçônica do meu antigo amigo possa ter lhe trazido tais questões, como as discussões provenientes do velho debate surgido em relação à arte poética de Aristóteles. No entanto, no mundo como o nosso não basta ter acesso à cultura. É preciso tomar atitude. Acrescentar reflexão.

Minha mãe me desanimou, certa vez, ao dizer que não fazia nada. Por outro lado, muito metafísico adoraria receber tal elogio. Ler, hoje em dia, virou uma prática vazia diante das diversas ações poluídas daqueles que nos acompanham. Já perdi companhias, porque me disseram a seguinte afirmativa: - Isso não vai dar em nada!

Ao mesmo tempo, quero ver o dia em que as pessoas estarão se agarrando nas crenças vazias criadas em oposição à quem pensa. O pensar não pode ser rotulado, como a maioria sói fazer. Ele acompanha o mesmo processo do viver em nossa sociedade.

Nessa semana, discuti com uma amiga um dos insultos recebidos na minha cavalgada cotidiana. Disseram-me, certa vez, que a formação em literatura é para sonhadores e que a realidade exige pessoas práticas ou centradas em si. Durante muito tempo, cheguei a aceitar tal questão tola, mas a atualidade me faz crer, todos os dias, que o mundo está pior do que o mundo literário.

Não acredita? Acompanhe o seu vizinho e veja com os seus próprios olhos. As pessoas estão, cada vez mais, sem noção. Isso também, devo reconhecer, facilita o trabalho de quem almeja a profissão de escritor. Há séculos atrás os personagens estavam muito distantes. Hoje, é só dobrar a esquina para encontrar um belo best seller.

Bruna surfistinha vai virar filme e o livro do tão criticado Paulo Coelho também. Crítica brasileira, aliás, que na opinião do já consagrado crítico literário Benedito Nunes, não existe mais. Ri demais, quando ouvi isso em sua palestra, porque observava uma professora se contorcer na cadeira em que estava com o tamanho sacrilégio dessa asseveração.

Aí, quem não me conhece, olha para mim. Fica pensando em um monte de coisas estúpidas e não percebe o que está tão claro diante delas. Às vezes, irrito-me com as conclusões estranhas tiradas sobre o meu sorriso. Afinal, outra coisa que percebi, ninguém mais pode rir hoje em dia.

Experimente fazer isso. Saia por aí com um sorrisão natural e compartilhe de sua alegria com todo mundo. Se você não for conhecido, vai receber as seguintes sentenças de cada um: - Você ficou rico? Você está muito estranho... Ou melhor, ainda podem te chamar de irônico sem entenderem a ironia. E antífrase sem pai é o maior atentado contra a literatura que alguém pode fazer.

O estranho mesmo é que atitudes “emo” não são contestadas. As pessoas estão deprimidas e fechadas em um canto. Todo mundo adora. Mas não vejo ninguém perguntar o porquê dessa atitude. Já vivemos em um mundo sem nexo, onde viver tornou-se um verbo filosófico. Então, prefiro ouvir os anônimos ou os mais próximos mesmo, quando estes querem me ouvir. João Carlos foi para a Amazônia, porque acreditava em um mundo diferente lá. Isso é outra história. No entanto, ele deveria ver o quanto aproximo a sua frase de minha atitude com a vida.