19.8.12

Lapidando a alma

Estou quebrado por dentro,
mas só eu posso ver.
As dores vão remoendo
o que não posso mais ter.

O passado estilhaçado na janela da alma
persiste colado em amálgama
no fundo do meu ser.

Minha bondade tornou-me banido da vida.
Abandonado pelo modo de amar,
pelo modo de sofrer.
Afinal, chega uma certa idade
que nossa vaidade
já não vale o que poderia valer.

O amigo de outrora
tornou-se inimigo
com a chegada da aurora.
E quem não gostava de mim
adotou um arrependimento sem fim.

Nesse ciclo estranho,
constrói-se um vaso de porcelana,
onde há chama no fundo
de um fogo moribundo.

No meio da vida havia uma pedra,
que, de muito sincera, foi lapidada
por todas as minhas quimeras.
Hoje vivo fantasia-realidade,
porque, no mesmo chão onde me pisaram,
nasceu um menino contente com a verdade.