21.6.16

A violência nossa de cada dia


O estupro coletivo da jovem aqui no Rio trouxe à tona algumas questões, que existiam muito antes dessa onda de discursos “istas” em que vivemos. Falar neste assunto é gerar constantes polêmicas, mas prefiro sempre direcionar o diálogo do meu texto com a postura tomada diante de tudo, que tenho observado de anos para cá. Em suma, diria que nossa cultura vive violentada e nossos hábitos andam em farrapos pelas ruas de nosso país.
Inicialmente, aprendi a equiparar os homens às mulheres para fugir dessa estranha tendência curva ideológica em que vivemos. Adotei uma postura anti-sexista por entender não haver mais possibilidade em separá-los nessa decadência de valores morais pela qual o Brasil passa. Afinal, quem erra é o ser humano independente do sexo, gênero ou cor. E esta visão não está tão simplista como possa parecer à primeira vista.
Antes de passar adiante, devemos ter consciência que nosso país sempre foi “patriarcal” de berço e, até mesmo, algumas “feministas” não percebem o foco em que a mídia e outros meios conseguem atingir com uma suposta defesa da mulher. Por outro lado, observemos um século mais esclarecido em que as mulheres têm decidido importantes questões e, não menos, participado de importantes revoluções.
A coisa muda de figura quando essas propostas ideológicas são reduzidas a atitudes de torcidas. E isso ocorre, por exemplo, na forma como muitos brasileiros refletem sobre o cotidiano. No meio virtual, termos como “esquerdopatas”, “feminazis”, entre outros, apareceram como se adotar uma ideia fosse escolher uma camisa ou rótulo para o ser pensante.
Esse tipo de análise esquece-se tudo: contexto, modo de vida, que tipo de filosofia adotada, etc.. Muito preguiçosa, então, essa forma de analisar a postura do outro julga o pensamento e não o avalia no patamar da reflexão. Afinal, refletir demanda tempo. E o brasileiro parece ter esquecido que isto existe.
Sou da época em que um homem elogiava a mulher com frases, orações e período. A nova geração importa-se apenas com adjetivos em frases exclamativas, como se aquele “linda!” pudesse resumir tudo. A questão que proponho seria a de ir além do elogio. Fazer elogios todos fazem, mas com que objetivo, ou propósito, muitos não saberão responder.
Outro fato curioso tem sido a depredação da imagem do corpo. Numa viagem a São Paulo, descobri como muitas mulheres continuam lindas muito vestidas. Ou seja, observe os casos do instagram em que algumas mulheres tiram fotos de tudo, menos do rosto. Não muito distante, a maioria sentia vergonha de postar fotos desse tipo ao público. E nem venham com esse papo do que é bonito é pra se mostrar. Afinal, bonito é ter ideias e argumentos sobre a vida.
Já nós, homens, estamos longe de uma “evolução” de hábitos. Cada vez mais o “metrossexual” está em voga e aquela bobagem de “macho alpha” está distribuído entre os jovens. E, numa linha contrária, podemos observar a antiga visão da postura anti-machista. Ainda quero ver um dia em que a sensibilidade masculina será vista sem “pré-conceitos” de formas prontas ainda vivas na sociedade brasileira. Muita gente nega, mas se você ouvir as questões propostas por uma mulher, ou escrever poesias, será visto fora do padrão do que é ser “macho” em nosso país. Lembrando, claro, que as opiniões aqui não são para generalizar e, sim, para discutir o senso comum, que tem se preservado bastante nos dias atuais, seja de forma oculta ou bem direta mesmo.  
Agora voltemos ao estupro coletivo com que comecei este texto. Os ecos da notícia ainda persistem nessa sociedade, embora pouco esta tenha aprendido com o fato. A moça foi violentada em meio hostil, mesmo que saibamos a velha máxima: Quem procura, acha! No entanto, muitos falaram que foi perda de tempo trazer à tona tal acontecimento de alguém já desvirtuada da sociedade comum. 

Essas moças frequentam bailes, porque querem. Muitas assumem casos com bandidos para ter um falso status diante da realidade. E a pergunta que faço é: Não seria apenas um resultado da degradação em que vivemos? Degradação esta que não parou ali. Hoje, vivemos em estado de calamidade por incompetência de quem deixou essa cultura de estupro crescer por mero abandono dos seres sociais. Aliás, o Rio de Janeiro é o funk, a malandragem, a terra das praias, das mulheres bonitas, do tráfico, das favelas, mas está tudo bem! São tantas “maravilhas” dessa terra, que agora só nos falta o homem de lata, o leão e o espantalho. E creio que existem sim. O homem de rua cata latas todos os dias, o carioca trabalha como leão para o seu sustento e todos estão em estado de espanto com esse Estado. Somos violentados a cada dia, quando acordamos em meio a esse ambiente de corrupção e malandragens.