26.5.09

Momento (im)previsível

Eu quero um amor,
que acredite no que digo.
Aquela que saiba o valor
de minha companhia de amigo.

Mas não quero amizade
e trocar falsos olhares.
Busco a verdade
que não se encontra em todos lugares.

Aquele sentimento
renovado a cada dia.
Esse que só acolhe sofrimento
por desistir da rebeldia.

O mesmo que está em Camões
e no abraço sincero.
E o refletido para além das canções
de meus mais simples versos.

Um amor que acolhe
as diferenças.
Aquele que não discrimina.

O respeito de ser como é,
porque já me amo como sou.
E amá-la é o pouco
do que sobrou.

Esse amor ainda vai chegar
no momento mais (im)previsível.
Porque já nasce de um olhar
tão amavelmente inesquecível.

Dialogar e questionar

Afundado em meio a leituras e obrigações, precisava respirar um pouco por aqui. Escrever é o meu único vício que irei compartilhar por muito tempo com as pessoas. Entretanto, uma questão sempre me levou à longas horas de pensamento: Sou um ímã ambulante de interpretações e questionamentos sobre o que digo, escrevo ou falo sem pensar. Daí me vem uma frase latina para o meu conforto...Ueritatem aperit dies!
Sim, o tempo é o meu único amigo. Ele pode revelar a verdade no meio dos discursos produzidos sobre mim. E escrevo isso não como forma de reivindicação, porque muitas vezes a velha máxima do "fale mal , mas fale de mim" me ajuda. No entanto, por ser verdadeiro, acho estranho as pessoas direcionarem as suas mentiras à mim. Acreditava que só os canalhas e os cafagestes sofressem o martírio por seu modo estúpido de satisfazer às vontades alheias, mas me enganei.
O meu engano foi crer que o modo poético com que encaro a vida não fosse visto como mais uma máscara desses modismos de personalidade excessivos da nossa sociedade.
Logo eu que odeio moda. Já tive que ouvir muita bobagem, porque tento estabelecer um diálogo com as pessoas para além dessa pífia realidade mesquinha. Não vejo ninguém questionar o modo de vida de um Ronaldo, jogador tão prestigiado pela mídia, que ficou fora de forma e, através do marketing pessoal, conseguiu sem menor esforço um proveitoso contrato com um dos times mais famosos do país.
Também já vi pessoas acreditarem na realidade como um refúgio para as suas decepções e nem tentar agir sobre essa para revertê-la. E por que sou questionado? As perguntas foram enormes e, muitas vezes, sem nexo algum. Já ouvi de uma garota, com que me relacionava há um tempo atrás, a seguinte pergunta: Depois de tudo o que aconteceu, você ainda me ama?
Parece até irrisório escrever tal fato que parece cena de novela, mas o expus para ver o quanto as pessoas questionam o simples e jogam os seus problemas para o outro. Está certo que estou solteiro hoje. Por outro lado, muita gente questiona até a minha solidão. Oras, o que mais vejo por aí é casal de conveniência. Já escrevi um texto sobre esse fato comum em nossos dias e o que mais me assusta é vê-lo ainda na realidade.
Aí acho engraçado muita gente acreditar que só vivo por meus textos. Isso me lembra as reações que causo em muita gente com a minha escrita parabólica. Nem eu mesmo me entendo às vezes! Quero dizer...O meu entendimento não é um puro entendimento do que vejo. Com as palavras prefiro sentir a mentir, como faz grande parte da humanidade. A mentira ficou tão comum... Ninguém mais comemora o dia da mentira.
Por isso, se um dia for presidente, tenho o sonho de decretar o dia da verdade. Dessa forma irei desnudar todas as controvérsias literárias e mostrar as verdadeiras mentiras. Cazuza falava de uma tal de mentira sincera, que não vejo as pessoas realizarem. Afinal, creio que muita gente não "realiza" nada hoje em dia. O lance está na responsabilidade e respeito adquiridos com a (con)vivência.
Viver com o outro está longe dos padrões ridículos que aturamos todos os dias pela tal sociabilidade. Para mim, a melhor forma de ser social acontece no jeito como ajudamos cada um a tomar consciência de si mesmo. Não a consciência psicanalítica freudiana ou esses termos confusos que encontramos nos livros de leitura. Entretanto, se escrever com a fala do meu dia a dia, sou cobrado: Você não é professor? E espero, um dia, também ser indagado com: Você não é escritor?
Ao mesmo tempo, essas contradições agem como duplo. Podem nos trazer benefício ou prejuízo diante das situações em que nos encontramos. Mas a sociedade é tão negativa que qualquer pronunciamento torna-se ofensa. Odeio a tão ordinária fofoca por causa disso. Ela é a representação das pessoas que só existem pelo que falam de nós. Poderia eu ignorar? Claro que sim, embora acredite que a ignorância não me foi uma dádiva concedida. Dialogar e questionar fazem parte de um movimento da vida. Quem sabe um dia, possa mostrar isso para um universo maior do que esse em que vivo.

24.5.09

Diário de poesia

Incentivado pela poetisa de mão cheia, e formidável caçadora de talentos, Camilla Ribeiro, irei apresentar o que escrevo, pela primeira vez, a uma platéia ao vivo em um dos eventos culturais que descobri nos últimos dias em São Gonçalo. Esse sempre foi um de meus sonhos, mas acredito que ainda vou crescer muito mais para representar o que há de melhor para a arte em minha vida. Enfim, é o momento de me preparar para mais uma longa jornada de aprendizados, trocas e vivência.

15.5.09

Aviso

Ultimamente, não tenho tido tempo para o blog. Estou lendo alguns textos e me preparando para algumas obrigações. Por isso, escreverei aqui com muito menos freqüência do que antes. No entanto, saibam que ainda leio os blogs anexados em meus links. Agradeço sempre o comentário de todos e o aprendizado com os admiradores da arte. Afinal, aprendemos muito quando compartilhamos o que pensamos e escrevemos em um processo que melhora, cada vez mais, o que somos. E esse recado é para os escritores, poetas, leitores,pensadores, filósofos, professores..Pois não importa o que você "seja", se você aprendeu a fascinante complexidade humana do ser com o Outro. Viva, respire e faça parte desse grande Universo chamado vida.

um abraço a todos

10.5.09

Nosso lugar

Quando lembro de você,
sinto a lua me abraçar.
Começo os cânticos de outrora
sem saber onde vão parar.

Sigo a dança das elfas
no balanço místico do olhar.
Respiro o ressumar da poesia
de quem sempre esteve lá.

Recebo o dardejar das folhas
no surgimento do outono.
E prevaleço no ambiente noturno
sem nenhum assombro.

Aliás, a sombra do teu corpo
prevalece em mim.
Procuro tatear a terra
nessa orquestra sem fim.

É a chama do amor
com as brasas de um futuro devir.
Sou o sol a brilhar
em águas de marés revoltas de sentimento.

E quando penso que não vou continuar
com o meu pensamento.
Só a natureza pode me chamar
para o eterno momento...

Sou eu,
sou você,
bem no nosso lugar.

Obs.: Voltando a escrever poesias...Já estava ficando muito prosaico ultimamente...rs

3.5.09

Livro

Algumas pessoas são como livros. Dependendo do tempo em que as lemos, a nossa interpretação pode ficar dúbia ou clara. Acordei com esse pensamento em mente e hoje tudo parece menos claro do que antes. Dei-me a escrever... As palavras não são o refúgio, mas me levam ao encontro daquilo que chamam por aí de Psique.
Às vezes, penso nesse psicologismo barato como um véu da realidade. Muita gente crê que pode controlar a sua vida a partir dele. Aprendi a ver o mundo com a sagrada janela da alma. O que, para muitos, é pura “breguice”, eu adoto na vontade da super-interpretação do ser. O olhar esconde muito menos do que o ser humano pensa.
Transpô-lo para algo material é muito pouco. Afinal, viver com pouco devia ser a grande sabedoria desse século. Somos o reflexo do exagero e o complexo de diversas almas gritando por si. Entender a si mesmo não passa de uma tentativa de compreender esse mundo fantástico, que não acredita mais em sua própria realidade.
A Psicologia chamaria isso de esquizofrenia. Projetamos o nada para além de sua existência. O existencialismo bate, há anos, em nossa porta. Alguns sabem acolhê-lo, enquanto outros se afogam em sua insignificante vida. Daí que a linguagem reaparece nas páginas do cotidiano. Os jornais sempre querem nos dizer o que nunca pode ser dito.
Cada capítulo está no olhar de quem vê. Ontem mesmo, senti saudade daquela moça esguia e bela. E o que lembrei? Lá estavam os seus olhos apontando para mim. Perdia-me com o debruçar na janela e pensava o porquê de não pensar com ela. Alguns diriam que isso é amor.
Desconfio que seja, embora não acredite em definições para os sentimentos. Sentir é muito mais. Agora mesmo foi um sentimento que me trouxe a escrever. Se você me lê, também foi o mesmo processo. Viu as palavras diante de si e se pegou nesse parágrafo.
Aí fica procurando me decifrar, como um amigo meu fez certa vez. Disse-me que era uma mistura de Clarice com Machado. A amizade foi comprovada nesse momento. Somos seres de lupas maiores diante daqueles que admiramos. O cego não é pior por não querer ver, mas por tentar ver além do que já está tão explícito. Sim. Sempre esteve lá.
O filósofo alemão Heidegger tinha uma expressão “Dasein”, que não vi ninguém conseguir explicar até hoje. No entanto, entendo-o a meu modo. Ser ali ou acolá é uma questão de “opiniães”. O certo está no incerto do autor de sua própria vida. Não importa o nosso nome, se não importarmos nominalmente o que somos. Uma alma exige muito mais do que um corpo.
O mistério da psique consiste em ser humano. Devemos humanizar a vida com o convívio do ser com o outro. Daí diremos mais do que notas de rodapé. Seremos o impulso para a roda do acaso e aceitaremos o irreconhecível do que conhecemos. Essa viagem perpassa o nosso cérebro com a força das mensagens enviadas a ele. E, mais uma vez, a linguagem se mescla à vida.
Não a favor do escrever pelo escrever. Para mim, devemos nos entregar ao que nunca fomos para entender o que queremos ser. O meu sonho sempre foi ser escritor. Entretanto, há mais mistérios em minha psique do que a vã filosofia do mundo possa nos oferecer. A decifração do enigma está no confronto com as leituras de vivências. Viver e não ter a vergonha de ser feliz...
Como não sou de cantar, prefiro escrever a certeza de ser um eterno aprendiz. Aprendo o desenrolar de cada parágrafo subjacente. O olhar das entrelinhas permanece no intangível sem que possa acompanhar a sua tradução. Deixo-me mergulhar por caminhos nunca antes visitados e declamo os ditames do meu coração. Psique? Será? Preciso sair para por o pé na realidade.