26.1.12

Tempestade cerebral

A chuva, lá fora, ressoa na janela
e aqui tentando escrever algo diferente.
Afinal, todo mundo vive na mesma panela
de coisas coerentes.

Quero ser surpreendido.
A cada passo, amargurado,
fui banido para um mundo solitário, indefeso
e desiludido.

Mas o meu ataque fere,
quando me defendo da hipocrisia do dia a dia.
Aguda e astuta, só a escrita me entende.

Esse pensamento perdido,
que costuma ser banido
para a terra do sem-fim.

Cada gota cai em uma tempestade cerebral
para me lembrar de que deveria ter esquecido tudo.
Daquele amor sepulcral, ou do ser venal,
que vendeu os seus sentimentos para o mundo.

O meu peito ainda dói trespassado
pela flecha do destino.
Embora já tenha perdoado
toda a dor sofrida.

Não me dói pensar,
porque não sei se o que tenho são lembranças,
ou se a chuva veio ressuscitar
as minhas esperanças.

Na verdade, aprendi a não esperar nada da vida.
E talvez seja isso que me incomode,
roubando, dos meus olhos, o brilho.

2.1.12

Todo verbo tem vida

Fazia tempo que a escrita não batia em minha porta.
Os versos agora escrevo em prosa
para não esquecê-los e tirá-los da rota.

Essa é uma história poética porque a vida quis assim.
No entanto, não é o destino que me guia
e vou escrevendo por ações o que descrevem pra mim.
Se sou poeta foi um desvio das experiências.

Viver é renascer todo dia.
Não importa o que lhe digam
ou se o mundo virou as costas para você.

Mundano é aquele que não crê nem em si.
As rimas expressam o som inefável do silêncio.
Consigo falar muito mais nele do que com as palavras.
Afinal, a minha ode não odeia ninguém.

Canto a sorte de um dia nublado
ou a pena de um mundo proibido.
Amor pra mim não é palavra.
Sexo não é gênero
e escrever não é vida.

Surpreendo todos porque surpresa é uma regra do meu ser.
Aliás, o que seria ser numa sociedade onde o ter vale mais?
Minhas reflexões já fizeram diversões flexões
antes de chegar aqui.

Não nasci há milhões de anos atrás,
mas faço cada segundo viver mais.
Fui abortado por todos no momento
em que decidi viver sem eles.

No entanto, narcisismo só existe, pra mim,
em páginas de compêndios de mitologia.
Ser poeta é muito mais do que ser.
Ter amor é muito mais do que ter.
Todo verbo tem vida.
É muito mais do que parece ser.

E se tivesse um desejo...
Desejaria que entendessem as minhas ações.
Porque o pra mim, quando é vivido, faz-se pra você.