29.7.14

                                                            Venda-se


Peguei me aqui entre o note e a cama. Olhos cansados, corpo pesado, quero apenas voltar a escrever. De forma, despretensiosa vim ao blogger escrever um pouco. Esqueço o que conheço de traquejos literários, lembrando de que gosto de esquecê-los no meio da inspiração. Vender ideias é meu costume, ainda que nem sempre as pessoas queiram comprá-las.

Ironia, ou não, acabei no ramo das vendas. O ambiente da loja me refaz no cotidiano bruto a ser lapidado. Às vezes, meus colegas me pegam absorto com o olhar largado na rua. "O que houve R. ?" - perguntam alguns mais indiscretos. Esses anos têm me trouxeram a suspeita do DDA inato, porque não sei no que tenho me transformado.

Alguns ainda acreditam na minha vocação pra aulas. Dizem ser perda de tempo ser vendedor, mas não há nenhuma profissão que proporcione um contato tão próximo com o ser humano como o ramo de vendas. Não sou estúpido também de dizer que esta profissão é um laboratório de experiências, afinal se não precisasse me suster de verdade, estaria blasfemando contra mim mesmo ou contra o ofício. Na verdade, sinto-me cada vez mais inclinado pra voltar a escrever, pensar e conversar com as pessoas. O contato com a realidade é muito mais próximo e verossímil do que se estivesse rodeado de paredes universitárias. Aliás, lá eles vendem algo morto chamado conjecturas, como se elas fossem progenitoras e não, filhas das ideias.

Vender ideias é se vender no bom sentido. Estar disposto a dialogar com/ e, ser você mesmo, diante de gente desconhecida. Já faço esse exercício há ano e pouco. E, apesar de dolorido, o choque tem me revelado descobertas maiores do que uma tarde de leitura de Kafka. Em suma, ser concreto também é devanear em sua realidade. Acho que muitos bacharéis deviam viver dias de operários, como diriam os filósofos que já não visito mais e, portanto, esqueci alguns nomes. A criatividade está em esquecer o base de sua essência que construiu a superfície. Vivemos em um mundo superficial, onde a venalidade não tem nada a ver com se expor para a vida. E é neste ponto que muitos erram.