19.8.12

Lapidando a alma

Estou quebrado por dentro,
mas só eu posso ver.
As dores vão remoendo
o que não posso mais ter.

O passado estilhaçado na janela da alma
persiste colado em amálgama
no fundo do meu ser.

Minha bondade tornou-me banido da vida.
Abandonado pelo modo de amar,
pelo modo de sofrer.
Afinal, chega uma certa idade
que nossa vaidade
já não vale o que poderia valer.

O amigo de outrora
tornou-se inimigo
com a chegada da aurora.
E quem não gostava de mim
adotou um arrependimento sem fim.

Nesse ciclo estranho,
constrói-se um vaso de porcelana,
onde há chama no fundo
de um fogo moribundo.

No meio da vida havia uma pedra,
que, de muito sincera, foi lapidada
por todas as minhas quimeras.
Hoje vivo fantasia-realidade,
porque, no mesmo chão onde me pisaram,
nasceu um menino contente com a verdade.














22.7.12

O Brasileiro não é triste ou otário (Resposta oficial a Celeumathosis)


Sim, esse repente
surgiu de repente
para dize porque me sintu excluído.
Com o coração doído,
vou dizeno que o povo
não é bobo não.

Vocês falam de mulher e cerveja,
mas se veja,
Qual poeta num fala?
Diz que cumpadres são de fé,
enquanto muitos abandonaram o seu movimento,
Ué!

Quem toca o povo da praça
merece mais respeito,
Porque a gente não se vende por peito
ou qualquer graça.

Quem vocês chamam de caboclos, cornos, zóio
poderia ser gente trabalhadora
que não o usa o trabalho como tema.
Afinal, vocês “tema” em usar a metralhadora
do palavrório
para se aparecer.

Artista é reconhecido por obra
e não vomita erudição.
Tem gente que leu apenas dois livro,
mas sabe mais que os seus erudito
que da vida fizeram um vício
de pura perdição.

To aqui aceitano o desafio,
porque o povo, meu fio, não é triste
e nem otário não.
Você se diz humilde
mas se sustenta numa tríade
para esquecer que somos uma nação.

Claro que holofote não se disputa.
Não quero luz
para as palavras que vêem do meu coração.
Arte não é ofício difício
pra meia dúzia que aprendeu Hacai
E fica citando nome de autô
para dize que leu.
Quem abadonou vocês criou movimento
porque viu que vocês só vivem de lamento
e não pensam em quem viveu.

Por último, rir e falar merda
não é lutar.
Pra mim é pura zombaria
com a vida popular.
Guerreiros nascem todos os dias
e lêem as suas poesias.
Por isso, exigimos respeito.
Isso pode ser bar, birosca,
ou o que vocês quiserem.
Mas o Brasil, muito menos São Gonçalo,
é brejo para esses sapos
fazerem putaria em forma de poesia.
 

2.7.12

Janus torto


Preciso desabar em palavras
para reerguer o meu coração.
Ele rasteja, mareja,
com o olhar da escuridão.

Se sou justo,
observam-me como moralista.
Se liberto a vida,
aprisionam-me em uma pedra ametista.
Só pra rimar.

Mas, voltando ao verso,
do que adianta ser honesto
em um mundo de que o atraso irá valorizar.

Valor, palavra perigosa,
ranhida, escolhida,
entre as mais desditosas coisas do tempo.

Se bem me lembro,
o meu esquecimento
ocorre pelas memórias compartilhadas.

Do outro lado, escuta a censura
da amordaça muda e feroz
daqueles que dizem o bem
como um ato atroz.

Sim, abuso de aliterações
e assonâncias,
porque a música me ajuda
a não desabar.

Mas não se iluda.
Enquanto você vai na última linha,
o poeta já voltou mil vezes da vida.

O meu olhar é para o futuro,
vivendo o presente do passado.
Um Janus torto de experiências,
cercado de mil cabeças
daqueles que me abandonaram.

26.6.12

O mundo


A Raul Seixas

Com essa onda de redes sociais,
aconteceu o que temia.
Confundem sempre realidade com fantasia.
“E eu do meu lado aprendendo a ser louco,”
um cara normal
com a vista no coletivo
sem perder o meu lado individual.

Não sou individualista,
porque na minha lista
só aparecem aqueles
que sabem viver.

Listo, confesso, uma ordem surreal
de coisas sem ordem,
pois ordenar é coisa do sistema.

E quem não acredita nele,
blasfema.
Afinal, você nasceu sozinho?

Esqueceu a sua educação,
sua filosofia de vida,
seus amigos
e tudo que é fruto do amor.

Pra sua informação,
quero ação,
muito mais do que essa reflexão,
que as rimas vazias provocam.

O julgamento que fazem de mim
acerta em cheio a sociedade,
porque ser social é um ato egoísta.

Faça como um amigo
que vi em redes sociais.
Ponha a sua face no book
e não esconda as suas origens.

Esqueça a hipocrisia
da sua time-life
E venha compartir que Stirner
estava errado em se acertar com o mundo.

O mundo?
Ele vira as costas para mim.
Justamente quando penso
que estou sendo coletivo.

18.6.12


Despidos (Ou uma dose de LTC)

Ao vê-la de costas para mim,
pensei em trazê-la de volta para a vida.
Sua tatuagem aponta à direção,
mas segui outro caminho.

Caminhei por entre os seus medos
com a coragem renovada pelo seu sorriso.
Unimos nossos corações em beijos
que foram além do libido.

Porque a nossa atração
desafiou às leis da física.
Abraçados, esquecemos do revés
que nos foi lançado.

Seu corpo é poesia inacabada
e escrita por céus de felicidades veladas.
Jogamos o melhor da vida
para ganharmos em experiências vividas.

Despidos de tudo o que o destino quis reservar,
traçamos o caminho errado para acertar.

7.6.12

Distância


Estou sendo isolado
pelas pessoas que mais gosto.
Empurrado pelas sarjetas da emoção,
cada sentimento fere o meu coração.

Rima lúdica
e a poesia simples retorna,
batendo à minha porta.
Minha psique.

Porque no meu momento triste
não existe um porquê.
Queria respeito,
não amor.

Como é doído perceber
que o ser humano ignorado
é o q mais está apaixonado
do meu ser.

Como é sofrível entender
que quem me ama,
não faz a mínima questão
de se fazer perceber.

A vida traz o enigma.
e eu tentando me socializar,
Mas a sociedade é um aglomerado
de achados e perdidos
recalcados.

Por isso, Freud sobrevive
e a psicanálise morre
nas calçadas de nossas ruas.

Ela se vai no gole do boêmio,
no sorriso da moça
que quis ser bem quista.
Mas a minha visão está torta
pela miragem desta vida.
Afastar-se é aproximar-se
da distância percorrida.

27.5.12

Amar


Amar,
essa palavra de quatro letras
que me persegue.
Odeiam-me com a mesma força
para dizê-la ao meu favor.

Não.
Faça-me o favor de esquecê-la.
Às vezes, a dor é melhor
do que reconhece-la.

O poeta não defende o amor,
porque ele vive por afundar
o coração em superfícies profundas.

Antes, era a sua mente,
depois o seu corpo...
A alma...Ali chegou
e morreu para todos aqueles que lhe acreditaram.

Tenho o peso severo das coisas,
porque sou honesto
em não tornar nada objeto.

Afinal, o ser humano prefere ser vil
ao alimentar a coragem
no seio do que julga sentir.

Conjulgo o verbo a dois
para mostrar a unidade do sentimento.
Somente ele é capaz de romper o asfalto de cimento
e tomar de assalto o que está aí dentro.

8.5.12

Vida danada


“A felicidade é a única saída, quando a gente encontra na vida quem quer agarrar a tristeza" Rômulo Souza


Ver o sol nascer no horizonte,
tornou-me um jovem ser secular.
Se rimar é um erro,
construo a rima em torno do meu lar.

De minha infância travessa
à adolescência muda,
mudei a forma de vê-la
diante da vida astuta.

Fui escritor, filólogo, lingüista, ator,
ativista, intelectual, filósofo
e amigo. Mas me vanglorio por não ser demagogo
para fazer da dor um alívio.

Por isso, só sei rimar,
quando estou inspirado.
Dos amores perdidos,
conservo, aos montes, os sorrisos,
porque confundiram o ser amante
com o ser amado.

Não dependo de ninguém
para ser feliz. Ao contrário da tristeza
que sempre veio acompanhada.
Não me deixem as dores de sua jornada,
mas contem comigo para cicatrizar feridas
dessa vida danada.


5.4.12

Será mesmo realidade?

Há um tempo atrás, escrevi um texto sobre o Orkut e muita gente o definiu como um exagero por criticar as redes sociais. Eis que surge o Facebook. As minhas hipóteses tornaram-se realidade. Aliás, será de realidade mesmo de que estamos falando?
Chegamos à era da curtição. Seus “amigos” não dão um oi na rua, mas curtem tudo que você publica no “the wall”. As pessoas assanhadas te cutucam,como se estivesse em um ônibus lotado e a onda de solidariedade tomou conta de todos. Parece que o panorama antigo mudou. No entanto, efeitos positivos são pouco aproveitados.
A galera continua “vivendo” diante da tela do computador. E continuam as interpretações sobre o que fulano escreveu ou publicou. Hoje temos a possibilidade de criação de grupos de debate e podemos promover eventos de arte e cultura em qualquer lugar.
Ontem, era o tempo das caminhadas, dos encontros entre amigos, etc... Não que nada disso ainda aconteça, mas agora a foto tem que ir para o Facebook. O pessoal da informática se defenderá dizendo que sou catastrófico ou sensacionalista, mas quem diz isso não entende o cerne de minha discussão.
O cidadão moderno, já fragmentado, acostumou-se a viver de forma virtual. Afinal, tudo agora está no sistema. A sua faculdade, o seu trabalho, a sua identidade, o que você faz no dia a dia... Que coisa chata! É por isso que tenho poucas fotos no meu perfil, curto quem quero e ainda sou visto como um alienígena que ignora a “realidade”. 
Sou a favor dos sentidos e contra o monopólio de um único sentir. O computador treina muito bem a “visão cega” dos grandes defensores da difusão de um novo mundo. A vida, para mim, não pode ser resumida a uma caixa em que todo mundo acredita ter acesso ao “mundo” do outro. Seguir o perfil de alguém e achar que o conhece é uma das maiores falhas de nossa sociedade. Aliás, sempre bato na tecla de que o homem comum do século XXI é uma negação como ser social.

11.2.12

Lição

Como o bacharel da vida,
fui graduado com marcas do passado.
As disciplinas novas foram aparecendo,
enquanto buscava a quebra dos vínculos.

As pessoas são assim.
Afasto-me daquelas que estão próximas,
porque elas se distanciam com sua peculiaridade.

Por isso, amores perdidos,
vazios solitários,
procuram-me em meu pior momento.

Já as pessoas desconhecidas me conhecem
de alguma forma.
Talvez porque enxerguem de uma lupa mais próxima
por estarem distantes.

O mesmo faço com o meu ser
que se revira em diversas direções
para encontrar uma única.

Como o pós graduado da vida,
perco o senso do ridículo
e me deparo com o melhor de mim.
As disciplinas antigas desaparecem a cada lição.

Banho-me no esquecimento
para entender que tudo não passou.
Não passou ainda.

Não passou como a insônia de todos os dias.

Agora, o desafio é outro.
Como reunir tanto aprendizado
E não me perder nesse mosaico?
Afinal, estou fragmentado por ser prosaico.

Tenho a sensação mais assustadora
que um homem pode ter.
É hora de sofrer com a invisível calculadora do tempo
e começar a conjugar o verbo reaprender.
Pois, se a vida é um ciclo,
nada eu tenho a ver com isso.
Quero viver.

26.1.12

Tempestade cerebral

A chuva, lá fora, ressoa na janela
e aqui tentando escrever algo diferente.
Afinal, todo mundo vive na mesma panela
de coisas coerentes.

Quero ser surpreendido.
A cada passo, amargurado,
fui banido para um mundo solitário, indefeso
e desiludido.

Mas o meu ataque fere,
quando me defendo da hipocrisia do dia a dia.
Aguda e astuta, só a escrita me entende.

Esse pensamento perdido,
que costuma ser banido
para a terra do sem-fim.

Cada gota cai em uma tempestade cerebral
para me lembrar de que deveria ter esquecido tudo.
Daquele amor sepulcral, ou do ser venal,
que vendeu os seus sentimentos para o mundo.

O meu peito ainda dói trespassado
pela flecha do destino.
Embora já tenha perdoado
toda a dor sofrida.

Não me dói pensar,
porque não sei se o que tenho são lembranças,
ou se a chuva veio ressuscitar
as minhas esperanças.

Na verdade, aprendi a não esperar nada da vida.
E talvez seja isso que me incomode,
roubando, dos meus olhos, o brilho.

2.1.12

Todo verbo tem vida

Fazia tempo que a escrita não batia em minha porta.
Os versos agora escrevo em prosa
para não esquecê-los e tirá-los da rota.

Essa é uma história poética porque a vida quis assim.
No entanto, não é o destino que me guia
e vou escrevendo por ações o que descrevem pra mim.
Se sou poeta foi um desvio das experiências.

Viver é renascer todo dia.
Não importa o que lhe digam
ou se o mundo virou as costas para você.

Mundano é aquele que não crê nem em si.
As rimas expressam o som inefável do silêncio.
Consigo falar muito mais nele do que com as palavras.
Afinal, a minha ode não odeia ninguém.

Canto a sorte de um dia nublado
ou a pena de um mundo proibido.
Amor pra mim não é palavra.
Sexo não é gênero
e escrever não é vida.

Surpreendo todos porque surpresa é uma regra do meu ser.
Aliás, o que seria ser numa sociedade onde o ter vale mais?
Minhas reflexões já fizeram diversões flexões
antes de chegar aqui.

Não nasci há milhões de anos atrás,
mas faço cada segundo viver mais.
Fui abortado por todos no momento
em que decidi viver sem eles.

No entanto, narcisismo só existe, pra mim,
em páginas de compêndios de mitologia.
Ser poeta é muito mais do que ser.
Ter amor é muito mais do que ter.
Todo verbo tem vida.
É muito mais do que parece ser.

E se tivesse um desejo...
Desejaria que entendessem as minhas ações.
Porque o pra mim, quando é vivido, faz-se pra você.