26.12.08

As entrelinhas



Imagine. Um homem ama uma mulher por quase dois anos e é ridicularizado por isso. Essa história seria muito banal se não existissem as “entrelinhas”. A vida também é assim.
Fazemos as nossas ações, mas esquecemos desse “porém”. Há sempre um terceiro que atravessa o nosso caminho com a omissão de palavras a sue próprio favor. Aí você ouve um: -Ele não mente! Claro, ele omite.
O meu discurso agora parece uma dor-de-cotovelo. Um dia, quem sabe, o leitor também passará por uma situação assim. Esse é o tal mistério da vida. Quem fala primeiro o que quer tem o domínio de toda a situação. Se aquele homem, já referido no início desse texto, chegasse primeiro, a “história” seria outra.
As pessoas dão valor à argumentos menores. Aqueles que não são visíveis e encontram o seu lugar nas “entrelinhas” da conversa cotidiana.
Imagine uma perda de um emprego por essa omissão. Muitos omitem a própria opinião para que a coletiva prevaleça. É sempre assim. E, quando alguém quer mudar essa rotina, pode receber o que deixam na “entrelinhas”.
Conheço um cara que era visto como gay por andar sempre com mulheres. Uma moça que é pudica pelo que falam dela. Por último, a nossa imprensa que vive das fofocas sobre os artistas.
Minha vida mudou muito ao saber que a Sandy era “ainda” virgem. Preparei-me naquele dia mesmo para “chegar” no “filezinho”. Ouvi comentários na rua: -Como ela deve ser na cama?
Esperto é esse pessoal que descobriu a ambrosia do Deuses! A verdade está nessas coisas mínimas da vida. Às vezes, penso em abandonar o meu desejo de se tornar escritor. As “entrelinhas” ganham mais crédito.
E ai de quem for contra! Faço de tudo para ir contra, mas ouço a velha setença:-Você é maluco ou viado? São duas opções recorrentes em Sociedade. De minha parte, acrescento a minha:-Você é maluco, viado ou escritor? A gente ouve cada coisa e precisa pôr no papel para permanecer na “esportiva”.
Tenho pena desse homem com quem comecei a crônica. Afinal, a razão de uma complicada “história” de amor recai sobre a mulher. Salvem-se agora feministas de plantão!
Brincadeiras à parte, imagine então a decepção desse varão quando descobre o poder das “entrelinhas”. Não adianta falar, porque elas já nos atribuem algum “pré-conceito”.
E o que fazer nesse momento? Eu prefiro escrever. Muitos amigos, os de verdade claro, acham graça do que escrevo. A distância entre as coisas é mais visível do que as fofocas.
O problema é que o ser humano prefere valorizar as mentiras. Essas ganham proporções maiores do que está explícito em linhas. Imagine, então, o que acontece com quem privilegia demais a verdade. Deve ser um “et” no mundo de hoje...

Essa poesia...

Essa poesia
Nasceu das noites mal-dormidas.
Sobreviveu à dias-de-sol
E dias-de-chuva.

Lembrou de nossas conversas.
Mas essa poesia...

Tentei escrevê-la de outro modo,
Sem tentar revê-la.
Porque dói aqui.

É a terceira vez
Em que a começo
Sem conseguir rimar.

Mas do que adianta escrever?
Você não vai olhar.

No máximo, um soslaio recebo
Em suspiros escondidos dessa poesia.

Ela sempre teve endereço certo,
Embora não saiba ao certo
Se ela quer me acompanhar.

Só peço um pouco de companhia.
Aquela verdadeira em que nos encontramos
Em palavras e dias incertos.

Aquela da companhia louca,
Que de louca só tinha apelido.
Essa poesia...

Essa poesia não queria
Ser lida e nem entendida.
Ela quer expor o que sente
Sem ser machucada.

Alguém achará que foi bem
Elaborada ou pobre de rima.
Sei lá...diga o que quiser.
Talvez você não esteja pronto mesmo
para entender a poesia da vida.

24.12.08

O novo diferente

O ano chega ao seu fim e a vida me revelao novo de forma diferente. Por isso, um filme veio à minha cabeça com personagens similares: Um avô morto por um ataque cardíaco, uma separação necessária de quem amava e a aproximação de pessoas, antes distantes. Tudo é um reflexo desse ciclo estranho em que se encontra o “poeta do amor”.
E tal alcunha foi um presente de um amigo há um ano mais ou menos. No entanto, o que importa não são os acontecimentos. Sem perder os fatos, importam-me as suas repetições em curtos espaços de tempo.
Alguns dizem que isso é um fruto da minha fértil imaginação. Outros dirão:- Ele está louco! Mas como explicar a sucessão de fatos parecidos em menos de três anos? Nietzsche chamaria isso de eterno retorno. Eu, de constante estorvo.
Talvez a minha forma agressiva de me lançar à vida assute às pessoas, enquanto o tempo percorre um curso que só existe psicologicamente. Na literatura, encontraram um termo para isso. Qual seria? Prefiro esquecer. Afinal, existem coisas que fazemos questão de esquecer!
Esse, por exemplo, será o primeiro natal sem nenhum avô. E, até agora, não consegui escrever uma linha para homenageá-los. Lembro-me de que a perda do meu avô “paterno” foi registrada em poucas linhas no “buzznet”: uma espécie de fotolog melhorado.
Três anos depois, coincidência ou não, perdi o meu avô “materno”. Nesse ano, choramos demais a perda dele e aprendemos o valor da ausência de alguém tão presente em nossa vida.
Então, acreditava em meros acasos. A natureza sempre nos tira quem ela quer pra si. No entanto, os outros eventos me assustaram muito. Não sabia mais o que estava acontecendo pela primeira vez.
Fui atrás de quem amava e lutei por seu amor. Conversei com os seus amigos e tentei entrar em contato com aquele mundo novo. Talvez o meu erro tenha sido a inocência de crer no “abraço universal”. Pois me parece que quanto mais auxiliamos o crescimento de alguém, mais este irá te ignorar.
O que assustou esse que vos escreve? Se respondesse que o mesmo aconteceu no referido intervalo de tempo, acreditaria o leitor em mim? Esse meu diálogo “casmurriano” nasce da constatação de um real inexprimível.
O platonismo seria uma ótima solução, mas sofro por tocar com todos os sentidos essa mesquinha realidade. Hoje, consigo fazer amizades pelo que leio ou ouço. A distância não importa. Entretanto, há três anos, a internet tinha mais valor em minha vida. Encontrei, naquela época, um novo amor que não teve um final feliz. Deve ser mal de poeta.
A gente vê o amor em tudo e as pessoas pisam em nossa perspectiva sobre o real. Deve ser engraçado negar ao comentarista de futebol o direito de falar mal do juiz. Ou então, impedir que um crítico de arte não faça pose de intelectual. Essas são comparações bizarras, mas qual é o problema de um poeta escrever sobre amor? Não sei.
Só sei que ouço constantes reclamações sobre a minha forma de descrevê-lo. Já me disseram muitas coisas... Guardo todas , porque esse ciclo existe. É uma coisa profana do tempo.
Amar não é para todo mundo! E não se assuste com essa declaração. Cada um tem a sua forma, mas ninguém sabe o que o amor é. Nem mesmo os poetas que se enrolam em torno de suas vidas. Eu nem sei o porquê de me chamarem de “poeta”. Afinal, tudo só muda de nome. Quem faz a nossa vida somos nós e o tempo. Feliz Natal!

9.12.08

A dança do Ser

Não faça o que digo
nem ouça o que falo.
Aprenda comigo
que a vida é uma farsa.

Mas, com ninguém, minto
no convívio cara a cara.
Não sou o que você pensa,
nem o que cogitara.

Sou muito mais do isso,
faço tipo na praça.
Escrevo para passar o tempo,
enquanto lembro do que mais admirava.

Ontem fui poeta,
hoje sou menino
e, no futuro, um Ser em devir.
O homem humilde
que não se cansa de rir-se
do que o suponham ser.

7.12.08

O verbo ficar

Usar as coisas, amar as pessoas. Nunca o contrário!

O verbo mal conjugado em nosso século é o “ficar”. Graças a ele, vejo os meus contemporâneos sofrerem com os resultados de suas ações. Acreditam em quase tudo que essa forma verbal possa oferecer por sua natureza quase instantânea de concretização.
Confiam os mais sábios que ele pode ser conjugado a dois e dar certo no futuro. Falam como se uma ação verbal tão ultrapassada fosse substituir, além de evitar, as mazelas de um tradicional namoro.Hoje, pense bem, não temos uma verdadeira conversa. Daí as mulheres recorrerem à velha desculpa de que os homens odeiam discutir relacionamento. Não admito tal posição se, pelo menos, ela “ficou” o tempo necessário conversando com o seu par, antes do relacionamento tornar-se sério e duradouro.
O amor virou algo de experiência e “ficou” distante de sua natureza poética. Para Diotima, no livro “Diálogos” de Platão, ele seria definido, em síntese, por uma única frase: “O amor é o desejo da posse perpétua do que é bom.”Isso pode ser um exemplo filosófico, mas representa irrefutavelmente a banalização desse sentimento em nossos dias. Camões também nos ajudaria com a paráfrase bíblica em que “O amor é fogo que arde sem se ver”. E poderia trazer exemplos de nossa realidade também.
O meu alerta faz-se necessário pelo “sucesso” obtido por esse verbo em todas as práticas sociais. Escolhi o exemplo central, visto que os outros são conseqüências dele.Se não desejamos amar perpetuamente à pessoa com quem vivemos ou àquilo que fazemos, o que estamos praticando?Aí aparece uma esdrúxula expressão como “mal-ficada” que explica todos os aborrecimentos dos jovens com a maior solução do planeta.
Conheço vários que “ficam” em depressão, com ansiedade e “ficam” ranzinzas diante do amor. O quadro se agrava com algumas jovens que atribuíram, ao termo, as suas fantasias. “Ficaram grávidas, sem apoio da família e sem perspectiva de vida.Na vida social, os jovens desejam “ficar” ricos numa outra ilusão impossível. Ainda, “ficam” bonitos na academia para defenderem o próprio corpo como personalidade.
Por outro lado, defendo o amor. Esse sentimento pode ser alimentado com qualquer outro que nunca nos deixará arrasados com a vida.“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita o mal;” Isso era o que Camões tentava nos dizer quando parafraseava esse trecho da Bíblia já na Renascença.
No entanto, devemos ressaltar o espírito inovador daquele século que ultrapassa o nosso. A história pode comprovar a minha afirmação. O “ficar” retirou, por acaso, a magia do ocasionalismo do amor. Ninguém mais acredita em amor à primeira vista, embora acreditem na existência do romantismo.Acho impossível haver um romance (não falo sobre o literário) sem o mistério proporcionado entre os olhares amorosos. O “ficar” está longe de professar esse agradável “ocultismo”. Sempre sabemos, após uma festa, com quem fulano ou fulana “ficou”!Enfim, devo “ficar” por aqui. “Fiquei” além do limite para questionar os limites para questionar os limites desse verbo tão estranho que as pessoas insistem em conjugar. Eu prefiro ser tradicional e amar eternamente o que há de melhor em nossa vida: O amor.
Obs.: Final de ano e eu postando um texto antigo que li no amigo oculto da turma da especialização. Um dia ainda consigo publicá-lo em um livro. Engraçado como ele ainda continua muito atual..