12.9.13

Memorial do esquecimento

Meu olhar não enxerga nada.
E o corpo, sofrido pela luta,
espera a aurora.
Já estaria na hora de voltar?

Não sei.
A rima é um refúgio
Em que a canção perdida
Retomar o seu lugar.

E eu, viajante de mim,
percorro o caminho deixado
em meu coração.

Lá, o dia nasce nublado
E cada revés se torna canção.

Às vezes, até rima; outras vezes não.

19.5.13

Quadrado Invisível



Sinto me deslocado neste mundo. Hoje em dia todo mundo quer se poeta. Então, fico procurando um motivo para seguir o que sempre quis ser. Para mim, poesia nunca foi placebo ou algo pra cuspir por aí. Estão destruindo os meus sonhos.
O escrever e o refletir está na moda. Basta olharmos no facebook poetas e pensadores surgindo todos os dias. Queria, no entanto, ver essas palavras serem empregadas com mais verdade e não, como soluções para os problemas do dia a dia. Zé fulano briga com a namorada e posta: “Qualquer decepção não é em vão!” Dona Maria se esbalda na festa com as amigas e cita Simone de Beauvoir na mesma página em que Anitta. Isso me entristece.
Nada diz que o poeta viva de mentiras, embora seu exercício seja o de enfeitar a realidade. Aristóteles continua muito vivo entre nós. Aliás, há muita gente que permaneceu viva, porque não faziam da poesia apenas um reduto bonito para o passeio das palavras.
Por isso, fico procurando o que me fez enveredar por este campo. Chego a pensar no inatismo como melhor resposta. Fico horas tentando entender o porquê de tentar pensar nesse mundo que não privilegia mais o poder das palavras. O negócio é fazer o quadradinho de oito.
Passei grande parte da minha vida trabalhando, estudando, sempre em busca do “bem” pensar. Até hoje não vi reconhecimento da sociedade para isso. Falo sobre pequenas palavras de louvor ou um salário digno para quem trabalha com a única faculdade humana que nos separa dos animais. E englobo neste exemplo as demais profissões intelectuais como professor, filósofos, críticos de arte, etc... Talvez, seja melhor eu desistir dos meus onze anos de caminhada intelectual para jogar futebol ou escrever um quadradinho de 16. Não sei, só sei que o que sei continua invisível.

7.5.13

Quem me vê?


Quem me vê pela música,
não me vê pelo livro.
Quem me da astúcia
nem quer ser meu amigo.

Onde está você quem não me vê,
enquanto outros insistem em lhe ver.
O sangue que escorre por dentro
é saudade do bem querer.

Mas não sofro, porque o meu dom
não é sofrer.
O som da saudade toca fundo em meu ser.
Já pensei em ir pela cidade;
no entanto, só sei me esconder.

Na verdade, quem me vê
não consegue me perceber.  

28.4.13

Avesso

Foi um poesia que me acordou...
Aqui de madrugada, ía dormir
e o sonho voltou.

A poesia não morre
pra quem escolhe poetizar a vida.
Mas pode viver insone
pra quem a rejeita de forma ilícita.

Prometi não escrever rimando
por achar simples demais um texto assim.
A alma acabou gritando
uns sons sem fim.

Quanto mais me controlo,
mais perco a desordem organizada aqui dentro.
Tô deixando o inconsciente controlar
o que a razão acaba escondendo.

Um poeta flechado no cerne da criação
que insiste contra o coração
fazer o sim da inspiração
contrariar o não do grito da multidão.

Diversos controversos em mim
não sabem que a poesia me unifica
e traz a vida, o recomeço.

E quanto mais escrevo
cada linha me diz
que sou um eterno aprendiz
e as palavras transformam a realidade em avesso.

5.1.13

Velas


Às vezes me confundo com as luzes sobre minha cabeça. Não sei a direção ou a origem delas no meio de tantos acontecimentos. Faz muito tempo que não escrevo. Não participo de eventos de poesia e estou há um mês afastado do metiê acadêmico. Idéias são como luzes de velas. Elas só têm o seu vigor enquanto estão acesas.
Na minha infância mesmo, ficava brincando de apagá-las numa guerra irritante. Passava a mão sobre elas, mas a intensidade e o calor me afastavam. De longe, minha mãe falava: - Não brinca com fogo menino! Um escritor deveria saber o perigo de se queimar. Afinal, somos chamuscados, todos os dias, por agressões verbais, ações silenciosas de inimigos e pela falta de ânimo com o convívio coletivo.
E para se viver em sociedade não se deve ter pavio curto. As pessoas andam evasivas e qualquer opinião divergente lhe queima por toda uma vida, diante do círculo em que vive. Talvez minha natureza revolucionária queimou gradativamente a vela da escola, da universidade, do trabalho, etc... Mas o que resta desta criança solitária? Nenhum homem é uma ilha.
A idade não se sabe mais. São as experiências que me dimensionam. Elas fazem enxergar além do muro de hipocrisia de nosso cotidiano, ainda que esse ato seja mais criminoso do que derrubar o muro de Berlim. Daqui a pouco irão me condenar ou processar o texto, porque não entenderão a metáfora do muro. Aliás, o homem perdeu a capacidade metafórica de ler e ouvir. É como se a vela estivesse ali sem brilho nenhum.
Admito que me sentia assim há uns dias atrás. As palavras de minha mãe fizeram sentido. A distância das coisas e das pessoas começava a ser perigosa. Ela se fazia de dentro pra fora. Meu corpo derreteu como parafina no fim, mas ninguém pode ver. Foi corte profundo em que só retomar o que se perdeu não adiantaria. A tristeza só é bela nos livros. No mais, viver é dolorido. Não acho realista acreditar que quem vive seja feliz. E, só agora, perto dos meus 30 anos, começo a entender Schoppenhauer.
As ideias nascem desta forma. Elas adquirem nome, quando o aprendiz passou pela mesma experiência do criador. Algumas nascem órfãs, dando trabalho a quem as geriu. Tenho diversas concepções de que não tenho a mínima ideia de onde surgiram. No entanto, fica fácil contar o número das que foram vividas. A não ser que, como ocorre com a vela acesa, surjam interferências externas que mudem o rumo das chamas. Afinal, a verdadeira chama interfere nas velas com as bases mais fortes. Continua queimando entre o sopro do vento da discórdia e a brincadeira inocente de uma criança.