14.4.09

O que vem primeiro

Hoje terminei a minha leitura do livro "A paixão segundo G.H.", de Clarice, e comecei a pensar sobre o mais comum dos temas da literatura: o amor. Esse sentimento que assola qualquer um com a sua imprevisibilidade previsível do amar. No entanto, fiquei bastante reflexivo com a enxurrada de sensações trazidas pela leitura.
Elas foram tão fortes que me impulsionaram a retormar o meu "vício", já abandonado no meio de tantas outras tarefas de minha vida. Talvez isso não seja nada diante do que amamos. Amar é mais do que pulsão. E tudo pareceu claro após o livro.
A grandiosidade dessa obra está no seu chamamento então. A cada página, senti a escritora ao pé do meu ouvido com as sonoras palavras do silêncio feminino. Por isso, gosto demais da Clarice. Alguns diriam que esse gostar deve-se ao fato desta ser fã do Lobato, o meu escritor favorito. Não, amar vai muito além disso.
O meu exemplo não foi feliz, mas a felicidade bordeja nos momentos mais indecifráveis da vida. Isso explica as noites que passamos pensando em alguém e à procura do entendimento do que sentimos. Logo, entendemos a maior significância não cabível em "quês". Afinal, à pessoas nutrimos o verdadeiro "amor" e aos objetos, a adoração. Há controvérsias sobre o "adorar"...
Entretanto, o adoro você pode não ter a mesma força do "admiro".
Tal complexidade faz parte da vida. Essa, então, nem se fala. Mas o que fazer quando as palavras não sustentam o mundo idiossincrático da sensibilidade? Em outras palavras, o nosso sentir é algo inaudito e um escritor desafia isso. Daí lembrei de outras formas de amar. Amo a escrita, embora ainda não possa viver dela.
E lembro que a minha primeira poesia nasceu com obrigação...Na escola, a professora me pediu para escrever sobre Francisco de Melo Palheta, um senhor desses de engenho. Aquela poesia ainda surgiu em coautoria com o amigo Fábio. Era treslocada como os seus compositores, mas perfeita aos olhos do "amadorismo".
Depois vieram os amores de verdade e entre poesias e poesias fui me tornando um cara menos racional. O estranho foi perceber o prejuizo dessa mudança no mundo atual. Não sei mais se existe o café palheta que homenageava aquele barão de engenho, enquanto eu perco, a cada momento, o meu espaço como inumano diante desse estranho lugar "humanizado" pelo racionalismo.
Já nem tenho a amizade com esse cara que abraçou o lado humano da vida. Ele se tornou uma pessoa rude e entendeu a vida do seu modo. Mudou a própria concepção de amor com o seu jeito áspero de se esconder do cotidiano. Tudo bem. Não ligo mais. No entanto, sou um poeta e aprendi a amar.
Assim como fui zombado por minha paixão, embora prefira sempre falar de "amor". Fui zombado por acreditar em coisas simples. Não perdi nada sei, mas quando se sente de verdade, somos capazes de sentir a dor do outro. Isso se chama a bendita compaixão. E ultimamente vejo as pessoas desistirem do amar.
Imaginem se não fosse sensível ao que leio ou percebo da vida. Seria um fantoche de razões humanas do ser com o outro. Por isso, os escritores encontram nesse sentimento inaudito a substância do viver. Todos se encontram no infinito interminável do finitio prazer do ler e do escrever. Assim, a paixão é segundo tal... Para mim não há paixão! O que vem primeiro é o amor.

8 comentários:

Unknown disse...

Caro Rômulo,como diz Dante na Divina Comédia,o amor que move o céu e as estrelas.Ele estava falando de Deus,mas aí,se pensarmos numa definição da eternidade como todo o amor de todos os eleitos que se une e se move em escalas concêntricas,imagine...
Mas Clarice nos deu uma noção muito mais realista de amor do que os que a chamam de 'ilegível',etc.Para mim e para você,e para muitos,ela nunca foi nem um pouco ilegível,muito pelo contrário.Clarice tinha uma percepção do amor muito longe dessas pieguices estúpidas por aí.
Meu caro,não se preocupe com muitas pessoas por aí.O amor verdadeiro causa inveja em muitas pessoas.Vivamos a vida da melhor maneira.Gosto muito de seus textos e da sua poesia.Grande abraço.

Ariane Rodrigues disse...

Que lindo, Rômulo! E a sensibilidade é algo para poucos. Ainda ontem peguei esse livro da Clarice na biblioteca. Tua resenha me deixou muito mais curiosa acerca da narrativa. Abraço!

Beatriz disse...

Tudo foi feliz aqui. Clarice com Lobato. A paixão pelo texto escrito tão bem!
Minha gata se chama Clarice em homenagem a mais gata - no sentido do ser gato e tb pela beleza dos olhos - das escritoras

Adriana Riess Karnal disse...

é, a leitura sempre a impressionar...

Patrícia Lara disse...

Olá, Rômulo!

Cheguei até o seu blog através do blog da Maria Maria...

Uma bela descoberta, sem dúvidas!

Gostei muito dos seus blogs, dei uma passeada por todos eles.
Vc escreve muito bem, se expressa com verdade, com sentimento.
Parabéns pelo trabalho!

Grande abraço,
Patrícia Lara

Unknown disse...

Rômulo,tem mais um selo para você no meu blog(hehe).Abração do James.

Anônimo disse...

Oi,

Em poucas horas começará a Blogagem Coletiva - Dia Nacional do Livro - Quem foi seu Monteito Lobato? Peço que , tão logo publique deixe um comentário com o link no post do dia do Fio de Ariadne. Abraço e até lá.

P.S. ah, Rômulo, mas há paixão... Já leu Amor Líquido de Zigmund Bauman?

Unknown disse...

EStive aqui bebendo um pouco do seu saber!! Abraço Ademar!!!