Às vezes me confundo com as luzes
sobre minha cabeça. Não sei a direção ou a origem delas no meio de tantos
acontecimentos. Faz muito tempo que não escrevo. Não participo de eventos de
poesia e estou há um mês afastado do metiê acadêmico. Idéias são como luzes de
velas. Elas só têm o seu vigor enquanto estão acesas.
Na minha infância mesmo, ficava
brincando de apagá-las numa guerra irritante. Passava a mão sobre elas, mas a
intensidade e o calor me afastavam. De longe, minha mãe falava: - Não brinca
com fogo menino! Um escritor deveria saber o perigo de se queimar. Afinal,
somos chamuscados, todos os dias, por agressões verbais, ações silenciosas de
inimigos e pela falta de ânimo com o convívio coletivo.
E para se viver em sociedade não
se deve ter pavio curto. As pessoas andam evasivas e qualquer opinião
divergente lhe queima por toda uma vida, diante do círculo em que vive. Talvez
minha natureza revolucionária queimou gradativamente a vela da escola, da
universidade, do trabalho, etc... Mas o que resta desta criança solitária?
Nenhum homem é uma ilha.
A idade não se sabe mais. São as
experiências que me dimensionam. Elas fazem enxergar além do muro de hipocrisia
de nosso cotidiano, ainda que esse ato seja mais criminoso do que derrubar o
muro de Berlim. Daqui a pouco irão me condenar ou processar o texto, porque não
entenderão a metáfora do muro. Aliás, o homem perdeu a capacidade metafórica de
ler e ouvir. É como se a vela estivesse ali sem brilho nenhum.
Admito que me sentia assim há uns
dias atrás. As palavras de minha mãe fizeram sentido. A distância das coisas e
das pessoas começava a ser perigosa. Ela se fazia de dentro pra fora. Meu corpo
derreteu como parafina no fim, mas ninguém pode ver. Foi corte profundo em que
só retomar o que se perdeu não adiantaria. A tristeza só é bela nos livros. No
mais, viver é dolorido. Não acho realista acreditar que quem vive seja feliz.
E, só agora, perto dos meus 30 anos, começo a entender Schoppenhauer.
As ideias nascem desta forma.
Elas adquirem nome, quando o aprendiz passou pela mesma experiência do criador. Algumas
nascem órfãs, dando trabalho a quem as geriu. Tenho diversas concepções de que
não tenho a mínima ideia de onde surgiram. No entanto, fica fácil contar o
número das que foram vividas. A não ser que, como ocorre com a vela acesa,
surjam interferências externas que mudem o rumo das chamas. Afinal, a
verdadeira chama interfere nas velas com as bases mais fortes. Continua
queimando entre o sopro do vento da discórdia e a brincadeira inocente de uma
criança.
Um comentário:
Que texto!
Não permita que a dificuldades da vida apague a chama que nasceu com você!
Gostei muito das suas palavras e me identifico com você.
Beijos
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