Esse capítulo merece uma atenção especial. Tenho o orgulho de ter descoberto o problema de toda a Humanidade: O orgulho. Um sentimento eterno que sobrevive às custas da perversidade da dominação social. Eu mesmo já sofri por muito tempo até me libertar desse grilhão invisível. A minha humilde liberdade, então, faz parte da humilhação que sofro diante das pessoas com quem convivo. Afinal, essa fraqueza é a mais comum desde os tempos da criação.
Adão foi o primeiro orgulhoso que não quis reconhecer o orgulho de Eva. Esta precisava ser protegida, mas quis, através da desobediência, mostrar-se superior. Por sua vez, o homem deveria ser humilde para admitir o seu erro, embora ambos tenham sido expulsos do paraíso.
Os dois eram fracos que buscavam o poder. Característica básica do orgulhoso. Ele se sente inferior sempre. Mas esqueceram a condição de igualdade em que o Criador os colocara. E, perdoem-me a heresia, para mim, outro orgulhoso. O senhor do Universo quis mostrar aos seus filhos o quanto os amava, castigando-os à mortalidade.
Parábolas bíblicas que só adquirem verossimilhança se o seu leitor não for pedante, ou soberbo, a ponto de renegar à própria alma. Ou você acredita que viemos dos macacos? Taí uma provocação que nunca irão me responder.
No entanto, existem outros exemplos comuns para reforçar a minha conjectura. O meu orgulho é inexistente e não atrapalha a autocrítica necessária à nossa reflexão. Pois só os humildes são capazes de refletir, de forma mais esclarecida, sobre a realidade que os cercam. Foi sempre assim na história de grandes escritores e pensadores, embora alguns preferissem se esconder no orgulho da inexistência.
Mas a pergunta que persiste em minha cabeça é simplesmente essa: — Orgulho de quê? E o meu pensamento fica tautológico quando reflito sobre isso. Essa sanha estranha a partir de efêmeros ataques de superioridade em um mundo em que até as minhocas entendem o seu papel no ecossistema.
Sim..o animais irracionais entendem melhor a tal da hierarquia. Uma ilusão distributiva da ordem em que os seres devem se dispor no meio em que vive. Eles sabem que o único ser superior é o buraco negro, que (mesmo assim) pode causar a destruição do Universo. Teria, então, orgulho de quê?
Há um quê instigante. Sem vida...sem nada. E todos pensam que procuram alguma coisa. Evito inserir em meus textos essa conjunção que só relaciona partes diferentes, mas essa própria oração contradisse a minha proposta.
Então, ele é procurado pelo Orgulho. Algo que precisa ser preenchido para se sentir superior. Todos os seres humanos se comportam assim. Entretanto, os grandes homens da humanidade são reconhecidos por irem contra à própria natureza. Elevar-se é ser fraco. Alguém aí lembra do Nietzsche? Eu lembro, com muito orgulho.
Brincadeiras a parte, quero disseminar o simples por essa Sociedade. Claro que estou longe de conseguir tal feito, mas só a minha humildade valhe a pena. Fazer o que, se tenho um quê inato? Não preciso buscar superioridade na igualdade de relações entre os seres. Já fomos criados espelho e semelhança do nosso criador. Pra quê querer mais?
A ambição aparece nesse momento, mas quem tem objetivos não precisa ambicioná-los. Ou queremos sempre algo que nunca será conquistado? Se queremos, creio eu, é porque há (ainda que mínima) uma possibilidade. Daí não acreditar na hipocrisia de certas mulheres compromissadas de dizerem ao homem cortês que ele havia confudido o elogio. Ninguém é louco o bastante para criar sentimentos.
Assim, troque a ambição por desejo. Esse é positivo. Se desejo algo é porque estou com vontade e só.. Aqui de novo o Nietzsche, mas sou humilde o necessário ao revelar os meus mentores ou aqueles à quem admiro. Porque não sou orgulhoso. E essa atitude não pode ser aceita por toda a sociedade. Ela quer induzir todos a um isolamento coletivo, visto que amar a si próprio de forma desmedida compromete uma visão isenta de "pré-conceitos" do Outro do nosso cotidiano. Afinal, o orgulhoso não aceita de forma crítica um argumento contra à sua valiosa imagem.
Capítulo encontrado em: O livro secreto - Algumas reflexões sobre o quê a Sociedade não pretende refletir. Em prelo
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