20.6.09

Um texto pessoal (im)pessoal

As mudanças sempre são necessárias na vida. Como sempre tenho percebido o quanto ela foi precoce neste ano. De repente, o antigo processo, que finda no meu aniversário, bateu à minha porta. Assim, noto as alterações em meu modo de escrever como se estivesse aprendendo a escrever de novo. É difícil explicar, porque já tentei fazer isso uma vez a uma pessoa muito próxima. Mas ela não acreditou.
Hoje, já não sou nem próximo do que fui há tempos atrás. Em setembro, terei quatro anos nesse espaço cibernético entre blogs e discussões, sejam essas literárias ou não. E, por incrível que pareça, creio ser a primeira vez que me proponho não tornar literário o que escrevo aqui. Apesar desse tom confissional me incomodar muito.
Não posso, porém, esquecer de que grande parte de minha vida foi dedicada a torna o real em irreal, ou vice-versa. Conheci muitas pessoas que me levaram (e levam) todos os dias a rever os meus conceitos e aprender a velha máxima escrita desde o primeiro blog.
O uno não é individual. Se fosse, estaria morto muito antes de viver. Ninguém vive sozinho, embora muita gente acredite que a solidão é sempre algo concreto. Estar sozinho no mundo é uma postura que muitos filósofos tentaram defender inultimente. Alguns escritores da literatura, por sua vez, extravasam os seus sentimentos num monólogo coletivo. Entendê-los é sentir o quanto somos esse outro que não conhecemos.
Na última quinta-feira, senti o mesmo. Pela primeira vez, expus a uma platéia algumas de minhas poesias e o encontro foi algo além de fantástico. E não foi pelos aplausos, quem me conhece sabe o que digo, mas pelos instantes em que pude me ver naqueles olhares tão felizes das pessoas que queriam compartilhar aquele eterno momento.
Agora entendo porque o narcisismo é uma prática artística defendida por alguns. Mas, ao mesmo tempo, não compreendo o porquê de olhar para si mesmo diante das pessoas tão interessantes que nos assistem, ou lêem.
Apresentei lá no http://diariodapoesia.wordpress.com/ e estava ao lado de um cantor e compositor, chamado Nei Motta. Escrevo aqui isso, porque muita gente pode não perceber o valor dos bastidores de um evento. O não-dito, ou não visto, apreende razões inomináveis em qualquer língua. A vida também é assim. Somos construídos pelas vivências secretas consigo mesmos, embora elas aconteçam no caráter da alteridade.
Nei gesticulava enquanto lia e ao final da apresentação disse-me:_Mandou muito bem! E o que para muitos pode parecer elogio, vi como um reencontro entre gerações artísticas em prol da manifestação da arte. Afinal, sou um grande apreciador de música, ainda que precise aprender muito nesse ramo. O meu grande amor sabe do que digo.
Na verdade, nunca imaginei que o meu sonho de ser reconhecido como um escritor fosse possível no meio de tantos obstáculos que a vida me impôs. Um deles até me afastou dela que poderia ter sido o meu par (im)perfeito. E se recebesse apenas aquele elogio do Nei já estaria feliz naquela noite. Um cantor homenagear minhas poesias até acendeu um sonho nascido, há mais ou menos dois anos, de compor uma música.
O que quero dizer, enfim, não pode ser expresso nesse texto. Pensei naquele dia em toda a minha vida e o quanto a combinação da data 18/06 poderia me dizer algum segredo místico do passado. É..essa parte não é pra entender, mas se escrevesse tudo para entender, seria um Paulo Coelho e não o Rômulo.
Bom, brincadeiras à parte, Paulo Coelho me perdoe, porque irão me acusar de falta de ética e de que estou longe de ser um escritor de academia. No entanto, não esqueçam de que esse é o texto mais pessoal que escrevi por aqui até hoje. Polêmico sempre fui e não me importa o que venham dizer sobre mim. Talvez tenha sido esse cara que pretendo esconder para que não seja considerado antissocial (é assim que escreve agora?) como na comu de letras em que fui expulso há tempos atrás. Por isso, o esquecimento é o meu aliado. Ele me traz mudanças sucessivas no momento em que esqueço de que não devo lembrar do que fui. Dedicar a vida ao viver é a única certeza que me resta. O resto, eu conjugo com o universo coletivo ao meu redor. Esse pessoal tão (im)pessoal de ser.

2 comentários:

Anônimo disse...

Rômulo, li seus textos e gostei muito. Depois vamos conversar sobre a possibilidade do (inter)dito virar um livro. Fiquei muito contente com sua participação no Diário da Poesia. As portas estão sempre abertas para você. A idéia de um grupo de artistas, como um todo, unido, talvez seja a diferença que nós que fazemos o Diário da Poesia possamos fazer nesse momento... Parabéns pelo seu talento e continue sempre. Abraço! Renato

Rômulo Souza disse...

Caro, Renato. Creio que São Gonçalo deva agradecer por sua iniciativa em prol da arte. Que o grupo continue, cresça ainda mais e dialogue com os outros grupos. Afinal, existem três coisas que creio mover o mundo: a alteridade, o diálogo e o contexto. Não necessariamente nessa ordem, mas as encontrei lá.

um abraço