3.2.09

A saga de um desiludido

Inspirado em “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, de Clarice Lispector e em “A mulher desiludida”, de Simone de Beauvoir



Parte 1: Sou um estranho


Meu nome é Solo,
Nasci estranho, meio assim. Entre leituras e desencontros fui deixando de ser o que a sociedade sempre quis que fosse. O modelo ideal de humano ainda se constrói no caricato machismo. De minha parte, procuro amar a educação que tive. As mulheres devem ser respeitadas. O resto? O resto é resto.
Daí o meu projeto ambicioso de não passar sozinho o resto de minha vida. Mas a vida me afasta desse par que, ao contrário de muitos, não idealizei. Taí o meu problema. Quem sabe deveria “idealizar” mais. Ler mais filosofia e me perder em escritos literários. Pensar em uma “Lóri” para conversar por horas e horas.
Quando fui à Porto Seguro, achei que havia encontrado uma. Ah...esses encontros e desencontros já são parte desse objetivo que alimento desde a minha adolescência. Afinal, era estranho.
Nunca perdi o meu tempo com falsas sensações. O meu concreto é o incerto em mim. E na Bahia as pessoas são assim. Os baianos amam a vida sem questionar o porquê. Muitos se lançam ao desconhecido e as mulheres então.. Piadas à parte, gosto mesmo de lá.
Um povo que teria muitas razões para reclamar. E o que vemos? Festa, festa... E lá fui eu. Perdido na multidão caminhava pela passarela do Álcool e ela sorria. Só. Se as mulheres procurassem menos o homem perfeito, os nossos problemas não existiriam. Elas acham que precisam muito mais para nos encantar. Bom, pelos menos acredito nisso. Ah... ía esquecendo, não conto. Sou estranho.
Aproveito cada segundo da vida com o olhar de uma criança. A minha sensibilidade constrange as mulheres de nosso século, porque elas ainda não aprenderam a não envelhecer diante de um homem. E meu tio me levou ao bordel.
Aquelas luzes todas sobre a minha cabeça já eram demais pra mim. A verdadeira luz estava dentro do meu coração e nem aquela jovem iria apagar. Não tinha nada contra o prazer. Muito pelo contrário. Mas não sou capaz de marcar a minha alma com ilusão. Queria a Vânia e o seu sorriso. Ela? Nem queria saber de mim. Talvez me visse como mais um estranho que não estava nos padrões do que ela acreditava ser um homem.
Um homem de verdade não mente e quando o faz se sente mal por toda a sua vida. Primeiro porque não terá coragem para olhar para a sua parceira e, se tiver, garanto que esse não a ama o suficiente. Esse tipo de amor não é verdadeiro. Vão me chamar de drástico, mas se esquecem que a traição não é mais um tabu em nosso século. Sou antigo mesmo. Defendo a volta dos casais.
Não aqueles perfeitos. Não há nada perfeito nessa vida, porém alimento o amor que me tranqüiliza. Quando a gente gosta de alguém é capaz de odiar amando e de nunca se sentir bobo diante de uma situação desesperadora. Eu acho, mas esqueça...
E lá estava o homem desiludido. Passou a noite bebendo e resistindo às investidas da senhorita T. Por quê? Como dormir com alguém, se ao acordar entenderia que foram só corpos a se encontrar? A Vânia, por sua vez, estava se divertindo com as amigas em um quarteirão próximo dali.

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